segunda-feira, 23 de junho de 2008

Marcha que marcha

Acabo de chegar de Madrid e pelas ruas do bairro Chueca sentem-se já os preparativos para mais uma marcha do orgulho LGBT, que este ano será no dia 5 de Julho. As revistas, os jornais e os cartazes convidam à participação de todos, convocam a uma maior visibilidade de uma comunidade/grupo que alcançou visibilidade sem medo e com coragem. De regresso a Lisboa pensei ter um dia uma comunidade que se mexesse, que se contaminasse e se dedicasse unida a uma causa cada vez mais necessária. A causa LGBT é inclusiva, convoca toda uma sociedade a aceitar a diferença, não para imitar modelos de fora, mas porque realmente respeita a voz de cada indivíduo.

A primeira vez que saí à rua foi em 2005 acabava de iniciar a minha vida profissional na cidade e como gay desejava descer a Avenida da Liberdade (a seu tempo demasiado larga esta avenida), porque tinha já participado em paradas noutros países e parecia-me uma hipocrisia não fazê-lo no meu próprio país. Além disso, estava farto de ver um conjunto de pessoas com medo de dar a cara e preocupadas, sobretudo, com a imagem que os meios de comunicação davam de um grupo que sempre quis, quer ser livre e diferente. Pelo menos uma vez por ano era possível ver em marcha expressões já usadas no bar ou na festa temática.

Quando desci aquela avenida dei-me conta que era necessário convocar mais pessoas, muitas pessoas para que os governantes deste país se dêem conta do “fracturante” que é estarmos em pleno século XXI sem direitos. Como todos sabem, os nossos direitos não retiram direitos a ninguém e ampliam a nossa voz como sociedade plural que a Constituição contempla. Como todos sabem é preciso deixar de ter medo de exercermos a nossa cidadania e de nela marcarmos a vida em comum.

A marcha este ano abre-se a mais associações e colectivos e não há pois desculpa para não sair à rua e reivindicar o que tanta falta nos faz.

Espero que a marcha seja um lugar de contaminações para os anos seguintes (só vamos na nona marcha) e que as pessoas se aproximem e queiram de facto um país plural. Chega de esperarmos e de nos lamentarmos que a marcha já marcha.

André Soares

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